sexta-feira, 9 de julho de 2010

O outro

Dora Brisa

Quem é o outro que me assusta, me alegra, me entristece, me decepciona, me surpreende? Quem é o outro que eu conheço pelo passo, pelo olhar, pelo sorriso, pelo toque, pela voz? Quem é o outro que eu vejo na rua, e nunca vi antes (talvez, nunca mais verei)?...
Quem é o outro que eu decepciono, faço sorrir, chorar, surpreendo, mando embora? Quem é esse outro que me busca para um cumprimento, um abraço, um colo, uma palavra de amizade? Quem é esse outro que me vira às costas, me abandona no meio do caminho, me manda embora, me violenta, mutila minha alma?
Quem será o outro do outro – serei eu? Eu, o outro que sorri, machuca, perdoa, ouve, acompanha?...
Mas o outro é tão diferente de mim – eu, o outro dele. O outro não me compreende, não quer o que eu quero, nem faz o que eu faço. O outro sente tantos medos e desejos que por mim são desconhecidos. O outro vive de um jeito tão diferente do meu. O outro joga fora o que eu mais quero na vida. O outro busca o que eu renunciei há tanto tempo. O outro caminha por estradas que eu recuso. Ah, o outro, sempre o outro...
Será por isso a solidão – falta do outro?... Mas como me aproximar do outro – se tão diferente de mim?... Quando espero ouvir, o outro cala; quando tudo que preciso é silêncio, o outro resolve falar, falar...
Mas, se eu sou o outro do outro, também o outro deve reclamar do outro dele. Nem sempre correspondo ao outro: ele me pede uma palavra, bato-lhe a porta; ele busca um sorriso meu, não dou-lhe mais que uma 'cara amarrada'...
Serei eu esse outro – impaciente, insuportável? Serei eu esse outro – egoísta, que não consegue enxergar o outro? Serei eu esse outro – que não aceita o outro como o outro é, mas exige ser aceito? Serei eu esse outro que se enxerga no outro, que reflete o olhar dele no outro?... Serei eu o outro?...
Ah, esse outro que me instiga, por que tão diferente, e, ao mesmo tempo, tão igual: inseguro, com medo do olhar do outro...
(Enquanto isso, a vida segue, como se fosse um ensaio... o tempo, alheio a tudo, também segue...)

Voz - Elisa:

2 comentários:

  1. amiga paiaça...é muito bom poder "ti ler",
    aprender com os teus rabiscos, o que eles, vcs me proporcionam é muito bom, sempre agradecida e envaidecida pelo privilégio de poder estar junto!
    beijão!
    Ass.: outra paiaça :)

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  2. Olá amiga!!! Me apaixonei por teu escrito! Me questiono muito sobre tudo isso. Somos sempre o outro do outro e muitas vezes nos esquecemos de quanto é importante compreender as pessoas que estão ao nosso redor. O respeito por nossos pensamentos só o teremos se com certeza vermos o outro como se fosse nós mesmos!grande beijo procê com o carinho de sempre! Sonia Murbach

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