sexta-feira, 24 de julho de 2015

Por um fio

Dora Brisa
Alô?... Quer falar com quem?...
Nada de trote, por favor...
Sem essa de me chamar de ‘meu bem’!...
Afinal, quem é o senhor?...
Ricardo... Ricardo...
Desculpe por eu não lembrar...
Ex-namorado?...
Vai ser difícil adivinhar...

Ah, Ricardo!...
Resgatei na memória!...
Antigo namorado...
Faz tanto tempo essa história...
Pra você não faz tanto tempo assim?...
Oh, desculpe, por favor...
Claro que guardei em mim
Os nossos momentos de amor...
Vivíamos a volúpia da mocidade...
Como eu haveria de esquecer?...
Nossas juras, nossa saudade...
Nosso desejo de tudo viver...
Ricardo, como você amadureceu...
Até tua voz está mais grave...
Teu vocabulário também cresceu...
Um verdadeiro homem... é verdade...
Ah, não me diga isso...
Olha que eu até acredito...
Você fazia me sentir um lixo...
Eu sei... Você não gostava dos meus gritos...
Mas me conta, Ricardo:
O que você tem feito?...
Como queria, foi ser advogado?...
Nem sequer vestibular pra Direito?...
Nossa... Isso que é novidade...
Confessa: você está brincando?...
Não consigo te imaginar no centro da cidade,
Vendendo contrabando...
Eu até entendo... Confia em mim...
Está difícil ganhar a vida...
Eu?... Dou aulas de latim...
Qual era mesmo a nossa música preferida?...
Ricardo... Ah, se você soubesse...
Falando doce desse jeito,
O meu coração enlouquece,
Batendo descompassado no meu peito...
Você sempre soube me encabular...
O quê?... Nem lembro mais
O porquê de nos separar...
Não... Ninguém mais fez, ou faz...
Ah, Ricardo... Fala tudo...
Desabafa, meu amor...
Liberta esse tempo mudo...
Repete que me ama... Por favor...
Há quanto tempo eu te esperava...
O destino é sempre assim...
Quanto mais sozinha eu chorava,
Você – inteiro – se guardando pra mim...
Repete... Arrepia o meu ouvido...
Só você sabe fazer...
Todo este tempo foi castigo...
Ricardo, de amor vamos viver...
O quê?... Por que você está me chamando
De Cristina?... Seu brincalhão!...
Logo você, que vivia gritando:
- Lá vai Beatriz, meu coração...
Engano?... O que você está dizendo?...
Melhor, fica um pouco calado...
Ouve meu coração batendo:
Ricardo... Ricardo...
Você tem certeza do engano?...
Ricardo, pensa bem...
Não lembra mais daquele final de ano?...
Na barraca, só nós dois... Mais ninguém...
Desculpe... Entendi agora...
Não... Não me chamo Cristina...
Namorei Ricardo no tempo de escola...
Eu ainda sonhava... Era uma menina...
Quando sentir saudade da Cristina,
Ricardo, por favor, me ligue...
Faz eu recordar, nessa neblina,
O amor que nunca tive...

Voz - Elisa: