Dora Brisa
Neste subverso
Em que me atrevo,
Revelo o inverso
Do que me é segredo.
Vou contar-lhe aqui
Como deixei de ser,
Antes do tempo em que nasci,
Subversiva sem viver.
Nasci em tempos de opressão,
Tempos de apatia aparente,
Mascara da subversão,
Que unia toda gente.
(Enquanto, fora, sangue verte,
No utero quase a parir,
Um corpo quase inerte,
Que ainda sabe dormir.)
Fui parida, de madrugada,
Pelo medo e pela ousadia,
Carregadores do nada,
Diante do tudo que exigia.
Não me chamaram
À trincheira clandestina,
Nem me batizaram
Com nome de beata menina.
Meu primeiro caminhar
Foi em direção do trem,
Que me ensinou a viajar,
E querer ver mais além.
Semelhante a tantos,
Também eu cresci na ignorancia:
Acordada, sonhava encantos,
Dormindo, despertava a infancia.
Cedo, quis aprender a ler,
E escrever era vontade incontida
(Eu queria tanta coisa dizer),
Naquela vida incompreendida.
Aprendi a ler, na placa da estação,
À beira dos trilhos esquecidos:
“Pare Olhe Escute” – minha primeira lição.
Até hoje, tantos universos lidos...
Cresci na revolução.
A revolução cresceu em mim.
Se ainda falo de coração,
É por acreditar no coração, enfim.
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário