terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Travessias

Dora Brisa

Olhares,
Multidões,
Burburinhos
me tonteiam,
e eu derrubo muros,
tropeço no meio-fio...

Expectativas,
Memórias,
Barcos vazios
me chegam,
e eu saio de mim,
viro plateia, atrás das cortinas...

Nomes,
Sabores,
Fisionomias
me fogem,
e eu me escondo nas teias
da estante esquecida, no porão...

Obrigações,
Relógios,
Fantasmas
me aprisionam,
e eu me liberto,
entre as grades da janela descortinada...

Gritos,
Escuridão,
Ruídos
me estremecem,
e eu danço,
na ausência de melodia...

Pássaros,
Folhas,
Crianças
me encantam,
e eu me recolho,
nos cantos de minh’alma...

Mar,
Abismo,
Céus
me fascinam,
e eu me agarro
nos meus olhos fechados...

Calçadas,
Telefones,
Pensamentos
me chamam,
e eu clamo:
silêncio.

Realidade,
Fatos,
Visões
me chocam,
e eu me sonho,
na rede estirada, no meio do nada...

Livros,
Músicas,
Filmes
me seduzem,
e eu me deixo levar
para o fundo do espelho...

Piano,
Atabaque,
Violão
me calam,
e eu me banho,
na cascata da capa da revista seca...

Nuvens,
Estradas,
Árvores
me ninam,
e eu me perco,
por não saber quem sou, sem por quê...

Palavras,
Pessoas,
Tempos
me atravessam,
e eu atravesso a rua, sem faixa de segurança,
diluída em reticências...

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