Dora Brisa
... e a vida é só isso: tudo. Nada...
... Nascer artista não é dom – é sina... Nascer artista é morrer para o que chamam 'normalidade'... Não se pode nascer e crescer artista (por que outro destino não há), sem se pagar um preço muito mais alto, se comparado àqueles que se reduzem à maioria...
O artista pode até se rebelar à sina, decidindo (achando que pode mesmo) ser 'normal' – jamais o será... Simplesmente por que continuará sendo artista – às vezes desleixado, outras parecendo desinteressado, ou até demonstrando sensibilidade exacerbada, a qual pode ser questionada e até mal-interpretada pelos demais (que não são artistas).
Para quem assiste, artista é atraente, por que parece viver na excentricidade – o que nada mais é que a falta de jeito no lidar com o mundo, pelo menos o mundo da 'normalidade'. Para o público e os fãs, artista não chora, não sofre, não come, não tem cefaléia, diarréia, dor de dente, não bebe, nem faz xixi – tudo é cênico, inclusive e principalmente a (miserável) vida de artista. Por isso, a criação de revistas de fofocas, por todo País, é hoje investimento sempre seguro: todo mundo quer saber dos artistas – não da vida (sina) deles, mas da aguçada imaginação daqueles fofoqueiros de plantão que resolveram melhorar de vida, às custas de vidas que nem existem.
Para quem convive com os artistas, não há nada excêntrico; pelo contrário, o cotidiano (natural à maioria) pesa nos ombros do artista. Artista vive de amores e horrores – ilusões e decepções... E isso é tudo na sina do artista, por que o resto é recheio disso – ora um tanto amargo, ora mais adocicado, mas sempre ficando um mal-estar na alma do artista... Quem convive, sabe: artista não suporta calculadora, nem cadernos de economia, política, futebol. Artista lê até classificados, quando acabam os cadernos de cotidiano e cultura. Anúncios fúnebres? Nem pensar. Artista já sofre, mesmo antes de nascer – não aguenta saber a morte dos que nem nasceram para a anormalidade do existir.
Artista tem tantas vidas, tantas quantas humanas... Tem aquela que ele nasce – artista. Tem aquela que ele sonha. Tem aquela que ele observa. Tem aquela que ele imagina. Por isso, artista é feito a ferro e fogo, forjado nesta vida, que é única.
Artista é atemporal. Fora do (seu) tempo e do (seu) espaço, ele vive o que acha que é viver... Mas o artista não pára para pensar nisso, não: ele vive além ou aquém do tempo, do espaço. O artista nunca parece estar onde está, por que onde ele está é além de onde está. O artista se debruça nas entrelinhas, como o pescador a observar o mar... E este momento é único – tudo do nada do existir...
Artista está sempre em desequilíbrio: ou se esforça forjando uma vida que parece ser sua, ou nem levanta da cama, em dia de sol e compromissos lá fora. Oito ou oitenta: de outra forma, artista não sobrevive... Antes mesmo de nascer, sabia que ia ser assim: um dia a mais, um dia a menos... Mas artista não conta os dias, nem as emoções. Artista vive, mas nunca está seguro disso. Há momentos em que, fazendo uma coisa qualquer – tão humana, tão igual -, o artista se depára consigo mesmo, e se estranha, e se admira. Num simples prato culinário, o artista se enxerga: artista, desprovido de qualquer outra vida, senão a sua própria arte. E ninguém mais testemunha a existência do artista, neste instante.
Para quem o conhece, o artista até parece 'normal', mas, dentro dele, no fundo da alma que lateja, a vida é assombro, êxtase – o tempo inteiro... Artista não consegue se recolher numa concha, e amar uma só criatura, contentar-se com os descendentes de sangue. Não. Simplesmente por que artista ama a humanidade inteira. Artista carrega dentro da alma, muitas vidas, muitos amores – por isso, colocam-no, quase sempre, no palco da promiscuidade. Mas artista quer conhecer mais que muitos corpos. Artista quer reconhecer, na emoção do outro, a própria emoção do existir. Artista quer dar e receber amor de tanta diferente gente, como já cantou o poeta.... Por que artista é um tumor inflamado de tanto amor pela humanidade. Mas isso não serve nem para justificar a falta de regra na vida (sina) do artista.
Artista é injustificável, por que não mora no seu próprio mundo – mora no mundo vizinho, onde existem leis que só reconhecem deveres, não direitos à vida. Neste mundo vizinho, onde o artista foi despejado, só se ama verdadeiramente uma pessoa de cada vez. Mas o artista não tem tendência à poligamia – ele só quer continuar amando toda a humanidade, sentindo as emoções que fluem das almas. O artista quer sentir vida, mesmo no mundo vizinho. O artista só quer continuar sonhando que, no fundo da alma humana, todos sentem, se emocionam e também querem mudar o mundo. Enquanto isso, o artista tenta adormecer, por alguns momentos, sonhando – acordado ainda – que amanhã será outro dia. Mas o dia acorda – como todos os outros dias – com cara de insônia.
... e a vida é só isso: tudo. Nada...
... e a vida é só isso: tudo. Nada...
... Nascer artista não é dom – é sina... Nascer artista é morrer para o que chamam 'normalidade'... Não se pode nascer e crescer artista (por que outro destino não há), sem se pagar um preço muito mais alto, se comparado àqueles que se reduzem à maioria...
O artista pode até se rebelar à sina, decidindo (achando que pode mesmo) ser 'normal' – jamais o será... Simplesmente por que continuará sendo artista – às vezes desleixado, outras parecendo desinteressado, ou até demonstrando sensibilidade exacerbada, a qual pode ser questionada e até mal-interpretada pelos demais (que não são artistas).
Para quem assiste, artista é atraente, por que parece viver na excentricidade – o que nada mais é que a falta de jeito no lidar com o mundo, pelo menos o mundo da 'normalidade'. Para o público e os fãs, artista não chora, não sofre, não come, não tem cefaléia, diarréia, dor de dente, não bebe, nem faz xixi – tudo é cênico, inclusive e principalmente a (miserável) vida de artista. Por isso, a criação de revistas de fofocas, por todo País, é hoje investimento sempre seguro: todo mundo quer saber dos artistas – não da vida (sina) deles, mas da aguçada imaginação daqueles fofoqueiros de plantão que resolveram melhorar de vida, às custas de vidas que nem existem.
Para quem convive com os artistas, não há nada excêntrico; pelo contrário, o cotidiano (natural à maioria) pesa nos ombros do artista. Artista vive de amores e horrores – ilusões e decepções... E isso é tudo na sina do artista, por que o resto é recheio disso – ora um tanto amargo, ora mais adocicado, mas sempre ficando um mal-estar na alma do artista... Quem convive, sabe: artista não suporta calculadora, nem cadernos de economia, política, futebol. Artista lê até classificados, quando acabam os cadernos de cotidiano e cultura. Anúncios fúnebres? Nem pensar. Artista já sofre, mesmo antes de nascer – não aguenta saber a morte dos que nem nasceram para a anormalidade do existir.
Artista tem tantas vidas, tantas quantas humanas... Tem aquela que ele nasce – artista. Tem aquela que ele sonha. Tem aquela que ele observa. Tem aquela que ele imagina. Por isso, artista é feito a ferro e fogo, forjado nesta vida, que é única.
Artista é atemporal. Fora do (seu) tempo e do (seu) espaço, ele vive o que acha que é viver... Mas o artista não pára para pensar nisso, não: ele vive além ou aquém do tempo, do espaço. O artista nunca parece estar onde está, por que onde ele está é além de onde está. O artista se debruça nas entrelinhas, como o pescador a observar o mar... E este momento é único – tudo do nada do existir...
Artista está sempre em desequilíbrio: ou se esforça forjando uma vida que parece ser sua, ou nem levanta da cama, em dia de sol e compromissos lá fora. Oito ou oitenta: de outra forma, artista não sobrevive... Antes mesmo de nascer, sabia que ia ser assim: um dia a mais, um dia a menos... Mas artista não conta os dias, nem as emoções. Artista vive, mas nunca está seguro disso. Há momentos em que, fazendo uma coisa qualquer – tão humana, tão igual -, o artista se depára consigo mesmo, e se estranha, e se admira. Num simples prato culinário, o artista se enxerga: artista, desprovido de qualquer outra vida, senão a sua própria arte. E ninguém mais testemunha a existência do artista, neste instante.
Para quem o conhece, o artista até parece 'normal', mas, dentro dele, no fundo da alma que lateja, a vida é assombro, êxtase – o tempo inteiro... Artista não consegue se recolher numa concha, e amar uma só criatura, contentar-se com os descendentes de sangue. Não. Simplesmente por que artista ama a humanidade inteira. Artista carrega dentro da alma, muitas vidas, muitos amores – por isso, colocam-no, quase sempre, no palco da promiscuidade. Mas artista quer conhecer mais que muitos corpos. Artista quer reconhecer, na emoção do outro, a própria emoção do existir. Artista quer dar e receber amor de tanta diferente gente, como já cantou o poeta.... Por que artista é um tumor inflamado de tanto amor pela humanidade. Mas isso não serve nem para justificar a falta de regra na vida (sina) do artista.
Artista é injustificável, por que não mora no seu próprio mundo – mora no mundo vizinho, onde existem leis que só reconhecem deveres, não direitos à vida. Neste mundo vizinho, onde o artista foi despejado, só se ama verdadeiramente uma pessoa de cada vez. Mas o artista não tem tendência à poligamia – ele só quer continuar amando toda a humanidade, sentindo as emoções que fluem das almas. O artista quer sentir vida, mesmo no mundo vizinho. O artista só quer continuar sonhando que, no fundo da alma humana, todos sentem, se emocionam e também querem mudar o mundo. Enquanto isso, o artista tenta adormecer, por alguns momentos, sonhando – acordado ainda – que amanhã será outro dia. Mas o dia acorda – como todos os outros dias – com cara de insônia.
... e a vida é só isso: tudo. Nada...