Dora
Brisa
Minhas
vestes são bandeiras
Brancas
tingidas de sangue.
Minha
única arma é a palavra:
Fria,
fere e mata a minha alma.
Quente,
salva a minha loucura.
Vivo
de grandes revoluções,
Só
dentro de mim.
Nem
faço mais perguntas,
Pois
as respostas me perseguem,
Ávidas,
irônicas, febris.
Só
tenho duas máscaras,
Que
não me foram herdadas:
Uma
é a máscara de um palhaço
Que
matei de tanto chorar
De
rir da minha cara.
Outra,
máscara de bicho-papão.
Essa
é minha mesmo.
Tanto
uma, quanta a outra
Provam
minha incompetência,
Total
inutilidade à vida humana.
Eu,
que desumana sou,
Sem
qualquer herança,
Eu,
sem gestos,
Eu,
sem olhares,
Eu,
sem saber se sou,
Ou
se um dia fui
O
que nunca serei.
Se
já não peço desculpas
Por
eu mesma existir,
É
por desconfiar, na verdade,
Dessa
existência de eu mesma.
Por
vezes, sei que toco
A
simplicidade e a complexidade
Do
que chamam vida.
Mas
meu astigmatismo
Só
me permite enxergar
O
que parece ser uma vida
Complexa
na simplicidade,
E
tão simples na complexidade.
Eu,
desistente,
Eu,
convencida de nada,
Eu,
isenta de ser e não ser,
Silencio
na resignação.
Aparentemente
saudável,
Não
desafio eletrodos.
Há
muito, meu coração
Foi
servido em banquete de vermes,
Depois,
chegaram os abutres.
Há
muito, é minha alma
Que
pulsa, e sangra,
Sangra,
pulsa.
Até
o dia do nada.
O
síndico do prédio anuncia
Que
(ainda) estou viva:
- A senhora tem de pagar
O
condomínio,
A
conta do gás.
Ele
não sabe que devo
O
pagamento do meu parto
À
rezadeira negra, que,
Numa
cantilena de noite chuvosa,
Chorou,
quando me viu nascer.
Definitivamente,
não sei viver
Com
os seres humanos,
Eu,
desumana, que só
Aprendi
a não ser.
A
quem, e como, pagarei
O
meu funeral indigente?
Eu,
que nada sei de vida,
Menos
ainda de morte.
Eu,
que insisti em nascer,
Para
ver a vida passar,
Pela
janela embaçada,
Enquanto
a morte me faz
Companhia,
na sala de espera.
Eu,
que nada sei de eterno,
Não
compreendo o momentâneo.
Eu,
que não sei andar na escuridão,
Silencio
os olhos, diante da luz.
Eu,
passado do futuro que recebi
De
presente, enquanto dormia.
Mas
ela insiste em repetir:
“Não
entender é tão vasto”.
Ora,
Clarice, vastidão é não existir.
Até
Clarice continua viva,
Mais
viva ainda, na morte.
E
isso nada tem de eternidade:
As
lembranças, as obras
Não
a deixam morrer em paz.
Agora
é tarde.
Mas
não havia aviso prévio.
Existo.
E
a minha existência é tão grandiosa,
Quanto
a existência de uma pulga,
Que
salta desapercebida,
Numa
ida-e-vinda inconsequente,
Para
depois deixar-se morrer,
Morrer
tanto, sem precisar ser esquecida.
A
palavra 'sempre' me assusta,
Enquanto
morro, a cada 'nunca'.
Não
sei o que fazer de mim,
Do
que eu poderia ter sido,
Do
que era para eu ter sido,
De
tudo o que não quis ser,
Do
nada que eu também recusei,
Do
que não serei, não fui, não sou.
Não
sei o que fazer com o que não sou,
E
nada mais resta saber em mim.
Já
fui ninguém, alguém viu.
Mas
faz tanto tempo.
O
que me sobra é não ser,
Enquanto
o tempo me finge existir.
Olá...que grata surpresa seu texto, e obrigado por dividir.
ResponderExcluirMulher! Mulher!
ResponderExcluirCada texto teu, desabafo, invade qualquer Alma mais sensível, tu és mulher plena, ímpar, tu és o ímpeto das palavras verdades..., tu és tudo é muito mais que palavras: és mulher!
Meu grande abraço fraterno.
Flor