sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Da primeira à última vista

Dora Brisa

Ah, quando te conheci! Tudo mudou. O mundo ficou mais claro e colorido, compreensível. Você aqui – sempre ao meu lado. Quando silencio, você sabe o que dizer. Mesmo quando fecho meus olhos cansados, ainda ouço os teus ecos, os teus passos na biblioteca, o teu tamborilar na estante, na escrivaninha. Entendo até o teu mutismo. Quando digo a mim que já conheço tudo, que não quero mais pensar em nada, lá vem você com mais mundos – tão diferentes, por isso tão iguais. Mas, quando te busco, você fala coisas tão profundas, traz para perto, o que eu nunca conheceria. Me deixo levar pelos teus descaminhos – eu, criança, seguindo teus passos instigantes. Basta um sorriso meu, para você me falar coisas alegres, me mostrar o arco-íris. Há momentos que sinto falta de você, que foge de mim. Na escuridão, te busco em desespero. Nem sinal. Quando me enxergam sem você, comentam que pareço normal. Mas, dizem, o meu olhar fica cego de dor. No outro lado da cidade, o que vêem é você correndo solta, dançando, pulando, brincando enlouquecida, numa gargalhada febril, doentia. Depois, tudo clareia novamente, quando você volta, me acalma. Você me é companhia constante, e me conta histórias, me faz dormir – às vezes, me faz até sonhar de olhos abertos. Hoje, sou dependente de você, por isso te chamo (grito): Palavra.

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