Dora Brisa
Hoje (instantes que passam), quero sentir sede, mas não sede saciada por uma água bem gelada. Não. Quero mais que isso.Quero saciar a sede da alma.
Lembro agora que, todos os dias, via aquela garotinha raquítica (não mais que oito anos de idade) passar pela rua, carregando uma garrafa vazia. Depois de algum tempo (longe dos relógios), voltava ela com a garrafa cheia d’água límpida, e seguia a ladeira, compenetrada, cabisbaixa.
Um dia qualquer desses, resolvi interpelá-la, quando ela dirigiu a mim, um olhar triste, absorto – único. Perguntei-lhe se não havia água em casa, e ela confessou-me, com o olhar fixo, que ia sempre buscar água para o avô doente, que morava sozinho. “Lá, no barraco do meu avô, água é líquido sagrado e raro” – disse-me ela, em voz séria e amadurecida, sentindo o que falava. “E meu avô também sente sede” – foi o que sussurrou, antes de seguir à ladeira.
O tempo passou, e fiquei com a imagem daquela menina no meu sentir (porque nunca mais pensei a respeito). Não mais a vi passar por ali, e julguei que o avô tivesse morrido; mas não de sede. Com certeza.
Neste instante (um dos instantes do meu hoje), quero sentir a sede deste velho desconhecido, doente. Quero saciar minha sede com a água cristalina que vi passar nos braços daquela criança. Quero sorver um só daqueles instantes em que a garota chegava no barraco do avô, punha a garrafa sobre a mesa improvisada, e pegava um copo para servi-lo à boca, que sequer balbuciava mais um “obrigado”.
Hoje (neste instante único que passa), quero absorver o olhar de gratidão do avô, saciando a sede que lhe queimava a alma. Quero sorver cada gota daquela água carregada pela menina. Quero mais sede ainda, para continuar sentindo o mesmo olhar que aguardava a menina na rua.
Hoje (instantes que passam), quero sentir sede, mas não sede saciada por uma água bem gelada. Não. Quero mais que isso.Quero saciar a sede da alma.
Lembro agora que, todos os dias, via aquela garotinha raquítica (não mais que oito anos de idade) passar pela rua, carregando uma garrafa vazia. Depois de algum tempo (longe dos relógios), voltava ela com a garrafa cheia d’água límpida, e seguia a ladeira, compenetrada, cabisbaixa.
Um dia qualquer desses, resolvi interpelá-la, quando ela dirigiu a mim, um olhar triste, absorto – único. Perguntei-lhe se não havia água em casa, e ela confessou-me, com o olhar fixo, que ia sempre buscar água para o avô doente, que morava sozinho. “Lá, no barraco do meu avô, água é líquido sagrado e raro” – disse-me ela, em voz séria e amadurecida, sentindo o que falava. “E meu avô também sente sede” – foi o que sussurrou, antes de seguir à ladeira.
O tempo passou, e fiquei com a imagem daquela menina no meu sentir (porque nunca mais pensei a respeito). Não mais a vi passar por ali, e julguei que o avô tivesse morrido; mas não de sede. Com certeza.
Neste instante (um dos instantes do meu hoje), quero sentir a sede deste velho desconhecido, doente. Quero saciar minha sede com a água cristalina que vi passar nos braços daquela criança. Quero sorver um só daqueles instantes em que a garota chegava no barraco do avô, punha a garrafa sobre a mesa improvisada, e pegava um copo para servi-lo à boca, que sequer balbuciava mais um “obrigado”.
Hoje (neste instante único que passa), quero absorver o olhar de gratidão do avô, saciando a sede que lhe queimava a alma. Quero sorver cada gota daquela água carregada pela menina. Quero mais sede ainda, para continuar sentindo o mesmo olhar que aguardava a menina na rua.
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