Dora Brisa
Nem sequer um testamento,
Nem isso deixamos a ti.
O que fica são cinzas
Do que era para ter sido,
E acabou, antes de acontecer.
Tua herança fica
Nas balas perdidas,
Nos livros de botânica,
Com fotos de plantas que,
Quando havia cor verde, existiram.
Receba a poluição
Do ar, do solo, das águas,
Como presente do nosso passado.
Estuda os esqueletos,
Descobertos por teus arqueólogos,
Pois foram nossos animais domésticos.
Teus olhos de futuro brilham,
Enternecidos, diante dos desenhos
De pássaros, cães, gatos,
Seres acinzentados pelo tempo.
Teu futuro guarda a natureza,
Nas páginas de livros
Que tu só encontras em museus.
Se te sentires sozinho,
Ao voltares para casa,
Pensa que teu passado
Preparou a cômoda poltrona
Do não existir.
E já não precisas mais,
Como teu passado,
Pensar, sentir, viver,
Por que pouco restou
Para ser pensado, sentido,
E viver o futuro
Tem conotação de passado:
Fluido.
Fugidio.
Fugaz.
Natureza – coisa do passado.
Vida – coisa que já passou.
Ser humano – aquele que se foi.
Consciência – não há provas de que existiu.
Nem precisas debruçar
A alma sobre livros de poesia,
Por que já não há coração.
Sentimento passou,
Como toda vida passa.
E nada mais restou, resta, ou restará.
Tudo o que te falarem, além disso,
Não é a nossa história humana.
Pode ser a poesia mais louca,
Que algum desvairado ainda esconde,
Nos vãos dos escombros do futuro,
Que também já passou.
sexta-feira, 13 de maio de 2011
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Enternecedor, que alerta, que fala por si só, que me confunde e ao mesmo tempo me faz pensar nesta realidade que vivemos. Lindo fiiiiiiiiiiiii, demais de lindo
ResponderExcluirMil beijosssssssssssssss
Paula, a anônima, afff, mais beijosssssssss
"“Pode ser a poesia mais louca,
ResponderExcluirQue algum desvairado ainda esconde,
Nos vãos dos escombros do futuro,
Que também já passou”.
Adorei destes teus versos... de paalvras soberanas... e digo um pouquinho mais...
Mas... É que as palavras
Que ainda não foram escritas...,
De uma escrita que ainda não foi lida
Porque ainda são...
Só emoções sem forma literária...
Reinadi Sampaio em 'Palavras soberans'
Cruz das Almas, 23 de janeiro - 14h23min.
Um grande beijo minha amiga.
Flor.