Dora Brisa
Já não ouço mais o vento,
Nem a festa dos insetos no gramado...
Já não falo mais sozinha,
Nem canto em ritmo desafinado...
Já não sinto o cheiro da terra molhada,
Nem do churrasquinho na avenida...
Não vejo o desenho das nuvens,
Nem enxergo além da vida...
Já não tenho mais resposta pronta,
Nem pergunta a intimidar...
Meu silêncio é feito de vazio,
Oco, profundo, sem ecoar...
Já não espero o trem na estação,
Nem a carta que jamais chegou...
Meus pés paralisados no chão...
No meu olhar, nada restou...
Já não abro a porta...
A janela enguiçou...
Pela vidraça embaçada,
A vida passou...
Meu mergulho é mudo, cego, surdo,
Insano, profundo...
Sou cobaia de mim mesma,
Neste misterioso mar do meu mundo...
Conheço mais o mar
Que lava a areia da praia
Do que este mar onde mergulho,
E minha alma desmaia...
Pobre de mim,
Náufrago solitário, resignado...
Só o mergulho restou-me na vida,
Que hoje aprendo a nado...
... E nadar neste nada
Faz-me sentir o nada
Que o nada me traz,
Ao mergulhar na água que afaga
O nada que aqui jaz...
sexta-feira, 27 de maio de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Todo um processo triste, mas retratado de forma belíssima, desde o vento que não mais se escuta, até o nada que aqui jaz...
ResponderExcluirFazer esse 'mergulho' mesmo quando dói, é sempre bom, ajuda-nos a crescer.
Maravilhoso Dorinha!
Maravilhoso Dorinha!
Um grande abraço fraterno.
Flor.
Mergulho singular! ;)
ResponderExcluirBjs