Dora Brisa
Enquanto você, cabisbaixo,
Me procura nas coisas que parecem minhas,
Eu simplesmente me acho
Nas silenciosas entrelinhas...
Você me procura na sala escura,
E eu banhada pela luz
Da solidão mais pura...
Você pede de mim aos vizinhos,
E eu – ajoelhada, dolorida –
A retirar seus espinhos...
Você me questiona, surdo,
Sobre política, macrobiótica,
Enquanto eu vivo do absurdo:
Sou bio – nada lógica...
Você me procura em igrejas,
Me chama de querubim,
E eu – pagã – bebo cachaça com cerejas,
Na esquina, no botequim...
Você sai à minha cata,
Em cerimônias, coquetéis,
E eu fico com a minha coca-cola em lata,
Em casa, comendo pastéis...
Decidido, você me presenteia
Farto estojo de maquiagem,
Sem saber que esta alma incendeia,
Despudorada, derretendo a imagem.
No circo, lá vai você perdido,
Com o olhar me buscando no público inteiro,
Ignorando que eu sou o pobre aturdido
Palhaço sem a menor graça no picadeiro...
Enquanto você fica parado no portão,
À minha procura (cega) lá fora,
Bato forte a porta do coração,
Definitivamente: vou embora...
Voz - Elisa:
sexta-feira, 8 de julho de 2011
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