Dora Brisa
I
Sou filha
De um amor louco
Da madrugada
Com o luar
Por isso o olhar
Sempre desperto
Distante do sol
Buscando nuvens
Nos holofotes das estrelas
II
A lua me bateu nos olhos
Alguém viu
No atrito
Meus olhos
Transbordaram estrelas
Ninguém viu
Nem meus olhos
Que se perderam
Na poça d’água
Que embalava a lua
III
Vivo sob a influência
Do tempo
Não esse tempo tosco
Cronometrado por relógios
Tempo que brinca com toda gente
No passar de cada hora
Seguindo lentamente
Quando já deveria ter
Ido embora
IV
O vento soprou
No meu rosto
Queria brincar
De brisa
Eu não podia
A casa estava cheia
Pessoas
Problemas
Todos os “pês”
O vento foi embora
Soprou longe
As nuvens
Que não pude ver
V
Da minha terra
Brotou a chuva
Que lavou o céu
E deixou brancas
As nuvens
Que caíram
Em outras terras
Secas
Que não eram minhas
VI
O mar banhou-me
A alma
Cheio de profundezas
Nunca mais
Perdi o gosto do sal
No doce sabor
Da minha alma
Que ainda arde
Em direção do mar
VII
Perco-me na mata nativa
Que não deixa rastros
Nem aponta caminhos
Mata menos escura
Menos fechada
Que a minha alma
Que brota em musgos
Os sonhos adormecidos
Pelo descaminho
E segue sem bússola
O silêncio da mata
Cheio de sombras
VIII
Eu sem sentido
Fiz as pazes
Com todos os sentidos
Que se rebelaram
Num repente
A visão foi tateando
A audição começou a cheirar
O tato passou a ter paladar
O olfato ouvia tudo calado
Enquanto o paladar a enxergar
De imediato
Meti os pés pelas mãos
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