Dora Brisa
Quando aqui cheguei,
Percebi que tinha perdido algo
(a memória? talvez!).
Esqueci que amor hoje
Pode ser indiferença amanhã,
Que revolta pode ser
Egoísmo simplesmente,
Que a vida pode representar
Somente nascer, viver, morrer.
Quando aqui cheguei,
Não sabia mais nada,
Nem que a inveja pode
Apresentar-se vestida de admiração,
Nem que a falsidade pode
Esconder-se no reflexo de doçura,
Nem que muitos castelos, casarões podem
Ser refúgio de máscaras familiares,
Nem que a luz pode esconder a escuridão.
Quando aqui cheguei,
Havia esquecido que,
Assim como se vive por amor,
Também se mata - se morre - por ele.
Eu - juro - não sabia
Que uma inofensiva faca de cozinha
Pode cortar mais que uma cebola.
Eu tinha esquecido que um olhar
Pode brilhar também de raiva.
Quando aqui cheguei,
Não pude ensaiar
Meu primeiro passo:
Simplesmente tropecei
Dentro de mim,
Embaracei - perdi -
O fio da meada,
Porque não havia memória,
E o pouco do nada esqueci.
Quando aqui cheguei,
Segui a marginália errante,
Que busca perguntas,
Rejeita respostas,
Foge do que alumia,
Salvando-se no colo da escuridão.
E já não me faz falta a memória,
Esse saber que nunca tive,
Porque a loucura não me deixa só na história.
Voz - Helena Antoun:
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
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