quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Poeta no morro

Dora Brisa

O poeta sobe o morro,
Com os passos de
Algum profeta esclerosado.

O poeta sobe o morro,
Como dona-de-casa na feira,
Em dia de céu nublado.

O poeta sobe o morro,
Com o olhar de quem
Vai aplacar o tiroteio.

O poeta sobe o morro,
Enquanto os tiros descem
Pela rua do meio.

O poeta sobe o morro,
Com lápis e papel,
Mão no bolso, distraído.

O poeta sobe o morro,
Nem escuta o morador
Que implora socorro, num gemido.

O poeta sobe o morro,
Feito homem-bomba,
Que morre pelo que acredita viver.

O poeta sobe o morro,
Cabisbaixo, em descuido,
Nunca pensou se proteger.

O poeta sobe o morro,
Como vai à biblioteca
Outros poetas encontrar.

O poeta sobe o morro,
Por que não sabe onde ir,
Nem se tem algum lugar.

O poeta sobe o morro,
Do mesmo jeito que vive:
Folha seca ao vento.

O poeta sobe o morro,
Nem repara os olheiros,
Tampouco o armamento.

O poeta já não mais sobe o morro:
Tropeça, cai
Em silenciosa dor.

O poeta morre no morro,
Sem saber onde ia,
Sem grito de pavor.

Um comentário:

  1. Oi linda amiga, faz tempo que nao nos falamos, estou levando a vida, sem grandes esforços, sem grandes dramas, apenas levando, veja bem nao é ela que me leva e sim eu, pois assim exerço a função útil da responsabilidade da existência, do ato de estar e ser. Continuo ouvindo Vivaldi, Bach, Tom Jobim e Villa Lobos. Reconhecendo as mudanças que acontecem em minha vida física e espiritual. Bjo proce!

    ResponderExcluir