Dora Brisa
Quando, dos teus olhos amedrontados,
Escapuliram duas lágrimas,
Desesperei.
Enquanto um beijo meu as recolhia,
Outras tantas lágrimas
Vieram juntar-se aos meus lábios.
E o meu beijo,
Que nascera doce,
Acabou por salgar-se
(afogar-se)
No mar do teu pranto,
Que era também meu.
Até hoje,
Tuas lágrimas esperam
Por meu beijo,
Que chora a ausência
Dos teus olhos,
Sem sequer um adeus.
Voz - Eduardo Cunha:
terça-feira, 30 de novembro de 2010
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
Procura
Dora Brisa
Quero ouvir aquela canção
Que canta o amor, a paz,
O olhar, o perdão,
E muito mais...
Não é essa música, não,
Nem aquela lançada ano passado...
É outra, que fala de tudo do coração,
Extingue a palavra pecado...
Também quero aquela poesia
Que fala de outros tempos,
Do nosso dia-a-dia,
Quando voávamos com outros ventos...
Não, não é aquela poesia,
Porque falta alguma coisa nela:
Talvez uma rede vazia,
Ou uma esperança na janela...
Quero música, poesia,
Procuro-as por todo lugar,
Mas nada preenche minha busca vazia,
E louca continuo a pesquisar...
Cansada de vasculhar,
Deixo minha procura, enfim...
Sozinha, busco o caminho do mar:
Eis a música e a poesia dentro de mim...
Voz - Rosany Costa:
Quero ouvir aquela canção
Que canta o amor, a paz,
O olhar, o perdão,
E muito mais...
Não é essa música, não,
Nem aquela lançada ano passado...
É outra, que fala de tudo do coração,
Extingue a palavra pecado...
Também quero aquela poesia
Que fala de outros tempos,
Do nosso dia-a-dia,
Quando voávamos com outros ventos...
Não, não é aquela poesia,
Porque falta alguma coisa nela:
Talvez uma rede vazia,
Ou uma esperança na janela...
Quero música, poesia,
Procuro-as por todo lugar,
Mas nada preenche minha busca vazia,
E louca continuo a pesquisar...
Cansada de vasculhar,
Deixo minha procura, enfim...
Sozinha, busco o caminho do mar:
Eis a música e a poesia dentro de mim...
Voz - Rosany Costa:
terça-feira, 23 de novembro de 2010
Preludio
Dora Brisa
Minhas vestes são bandeiras
Brancas tingidas de sangue.
Minha unica arma é a palavra:
Fria, fere e mata a minha alma.
Quente, salva a minha loucura.
Vivo de grandes revoluções,
Só dentro de mim.
Nem faço mais perguntas,
Pois as respostas me perseguem,
Avidas, ironicas, febris.
Só tenho duas mascaras,
Que não me foram herdadas:
Uma é a mascara de um palhaço
Que matei de tanto chorar
De rir da minha cara.
Outra, mascara de bicho-papão.
Essa é minha mesmo.
Tanto uma, quanta a outra
Provam minha incompetencia,
Total inutilidade à vida humana.
Eu, que desumana sou,
Sem qualquer herança,
Eu, sem gestos,
Eu, sem olhares,
Eu, sem saber se sou,
Ou se um dia fui
O que nunca serei.
Se já não peço desculpas
Por eu mesma existir,
É por desconfiar, na verdade,
Dessa existencia de eu mesma.
Por vezes, sei que toco
A simplicidade e a complexidade
Do que chamam vida.
Mas meu astigmatismo
Só me permite enxergar
O que parece ser uma vida
Complexa na simplicidade,
E tão simples na complexidade.
Eu, desistente,
Eu, convencida de nada,
Eu, isenta de ser e não ser,
Silencio na resignação.
Aparentemente saudável,
Não desafio eletrodos.
Há muito, meu coração
Foi servido em banquete de vermes.
Depois, chegaram os abutres.
Há muito, é minha alma
Que pulsa, e sangra,
Sangra, pulsa.
Até o dia do nada.
O sindico do predio anuncia
Que (ainda) estou viva:
- A senhora tem de pagar
O condominio,
A conta do gás.
Ele não sabe que devo
O pagamento do meu parto
À rezadeira negra, que,
Numa cantilena de noite chuvosa,
Chorou, quando me viu nascer.
Definitivamente, não sei viver
Com os seres humanos,
Eu, desumana, que só
Aprendi a não ser.
A quem, e como, pagarei
O meu funeral indigente?
Eu, que nada sei de vida,
Menos ainda de morte.
Eu, que insisti em nascer,
Para ver a vida passar,
Pela janela embaçada,
Enquanto a morte me faz
Companhia, na sala de espera.
Eu, que nada sei de eterno,
Não compreendo o momentaneo.
Eu, que não sei andar na escuridão,
Silencio os olhos, diante da luz.
Eu, passado do futuro que recebi
De presente, enquanto dormia.
Mas ela insiste em repetir:
“Não entender é tão vasto”.
Ora, Clarice, vastidão é não existir.
Até Clarice continua viva,
Mais viva ainda, na morte.
E isso nada tem de eternidade:
As lembranças, as obras
Não a deixam morrer em paz.
Agora é tarde.
Mas não havia aviso previo.
Existo.
E a minha existencia é tão grandiosa,
Quanto a existencia de uma pulga,
Que salta desapercebida,
Numa ida-e-vinda inconsequente,
Para depois deixar-se morrer,
Morrer tanto, sem precisar ser esquecida.
A palavra 'sempre' me assusta,
Enquanto morro, a cada 'nunca'.
Não sei o que fazer de mim,
Do que eu poderia ter sido,
Do que era para eu ter sido,
De tudo o que não quis ser,
Do nada que eu também recusei,
Do que não serei, não fui, não sou.
Não sei o que fazer com o que não sou,
E nada mais resta saber em mim.
Já fui ninguém, alguém viu.
Mas faz tanto tempo.
O que me sobra é não ser,
Enquanto o tempo finge existir.
Minhas vestes são bandeiras
Brancas tingidas de sangue.
Minha unica arma é a palavra:
Fria, fere e mata a minha alma.
Quente, salva a minha loucura.
Vivo de grandes revoluções,
Só dentro de mim.
Nem faço mais perguntas,
Pois as respostas me perseguem,
Avidas, ironicas, febris.
Só tenho duas mascaras,
Que não me foram herdadas:
Uma é a mascara de um palhaço
Que matei de tanto chorar
De rir da minha cara.
Outra, mascara de bicho-papão.
Essa é minha mesmo.
Tanto uma, quanta a outra
Provam minha incompetencia,
Total inutilidade à vida humana.
Eu, que desumana sou,
Sem qualquer herança,
Eu, sem gestos,
Eu, sem olhares,
Eu, sem saber se sou,
Ou se um dia fui
O que nunca serei.
Se já não peço desculpas
Por eu mesma existir,
É por desconfiar, na verdade,
Dessa existencia de eu mesma.
Por vezes, sei que toco
A simplicidade e a complexidade
Do que chamam vida.
Mas meu astigmatismo
Só me permite enxergar
O que parece ser uma vida
Complexa na simplicidade,
E tão simples na complexidade.
Eu, desistente,
Eu, convencida de nada,
Eu, isenta de ser e não ser,
Silencio na resignação.
Aparentemente saudável,
Não desafio eletrodos.
Há muito, meu coração
Foi servido em banquete de vermes.
Depois, chegaram os abutres.
Há muito, é minha alma
Que pulsa, e sangra,
Sangra, pulsa.
Até o dia do nada.
O sindico do predio anuncia
Que (ainda) estou viva:
- A senhora tem de pagar
O condominio,
A conta do gás.
Ele não sabe que devo
O pagamento do meu parto
À rezadeira negra, que,
Numa cantilena de noite chuvosa,
Chorou, quando me viu nascer.
Definitivamente, não sei viver
Com os seres humanos,
Eu, desumana, que só
Aprendi a não ser.
A quem, e como, pagarei
O meu funeral indigente?
Eu, que nada sei de vida,
Menos ainda de morte.
Eu, que insisti em nascer,
Para ver a vida passar,
Pela janela embaçada,
Enquanto a morte me faz
Companhia, na sala de espera.
Eu, que nada sei de eterno,
Não compreendo o momentaneo.
Eu, que não sei andar na escuridão,
Silencio os olhos, diante da luz.
Eu, passado do futuro que recebi
De presente, enquanto dormia.
Mas ela insiste em repetir:
“Não entender é tão vasto”.
Ora, Clarice, vastidão é não existir.
Até Clarice continua viva,
Mais viva ainda, na morte.
E isso nada tem de eternidade:
As lembranças, as obras
Não a deixam morrer em paz.
Agora é tarde.
Mas não havia aviso previo.
Existo.
E a minha existencia é tão grandiosa,
Quanto a existencia de uma pulga,
Que salta desapercebida,
Numa ida-e-vinda inconsequente,
Para depois deixar-se morrer,
Morrer tanto, sem precisar ser esquecida.
A palavra 'sempre' me assusta,
Enquanto morro, a cada 'nunca'.
Não sei o que fazer de mim,
Do que eu poderia ter sido,
Do que era para eu ter sido,
De tudo o que não quis ser,
Do nada que eu também recusei,
Do que não serei, não fui, não sou.
Não sei o que fazer com o que não sou,
E nada mais resta saber em mim.
Já fui ninguém, alguém viu.
Mas faz tanto tempo.
O que me sobra é não ser,
Enquanto o tempo finge existir.
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
Assim será
Dora Brisa
Um dia, minhas mãos
Não vão mais um gesto esboçar...
Um dia, meus pés
Não mais tropeçarão no meu andar...
Um dia,
Não mais meterei os pés pelas mãos,
Na vida que me foi dada,
tirada...
Um dia,
Restarão (ainda) os toques sonhados,
Os passos imaginados,
A vida que andou
Pelos meus pés,
Pelas minhas mãos deslizou ...
Depois de tanta escuridão,
Assim será – um dia...
Voz - Elisa:
Um dia, minhas mãos
Não vão mais um gesto esboçar...
Um dia, meus pés
Não mais tropeçarão no meu andar...
Um dia,
Não mais meterei os pés pelas mãos,
Na vida que me foi dada,
tirada...
Um dia,
Restarão (ainda) os toques sonhados,
Os passos imaginados,
A vida que andou
Pelos meus pés,
Pelas minhas mãos deslizou ...
Depois de tanta escuridão,
Assim será – um dia...
Voz - Elisa:
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
Das alegrias e das dores
(Foto: Guilherme -Amapá)
Dora Brisa
Quando me soltaram no mundo, nada me disseram sobre dores, ou alegrias. Tateando, engatinhando, fui descobrindo que não existe dor maior, ou dor menor. Nem tampouco a alegria é mensurável, comparável. Cada dor é única. Cada alegria também. Fatal. E foi assim que descobri ainda que a alegria e a dor são – essencialmente – solitárias, mesmo quando acompanhadas de um outro sorriso, uma outra lágrima.
Quando me soltei no mundo, eu nada sabia de solidão – a mais autêntica solidão sentida na companhia de um outro alguém solitário. Mas ainda restava o dentro de mim – que sobrevivia num buraco encrustado no canto do porão escuro. Num ímpeto de busca de ar, meus olhos se ofuscaram diante da luz do sol. E já não havia como voltar ao porão escuro, porque a porta se trancou por dentro, como a recusar o calor do dia. Gotas de chuva de verão lavaram minha alma, que enxergava agora a casa abandonada, que sempre esteve acima do porão. Aos poucos, escancarei portas e janelas dessa casa, lavei tudo com água pura, ajeitei os móveis, coloquei a vida no lugar.
Hoje, solta no mundo – depois que meu velho pai deixou-me aos cuidados de mim mesma -, ainda me extasio diante da dor e da alegria. A dor, desde sempre, me é subjetiva: não aprendi a sofrer pelo efeito, mas sim, pela causa: sempre a maldade humana (a mesma raça de onde provêem também as minhas maldades – sou pré-histórica). Já minhas alegrias – sempre digo – são simplórias. Às vezes, um leve roçar de penas de passarinho em vôo, pelo meu rosto, traz a alegria do meu dia. Ou então os olhos arregalados e a boca aberta em baba da criança que solta um balão pelos ares. Isso faz meu olhar brilhar da mais pura alegria. Mas confesso também que sinto as dores e as alegrias do mundo. Tudo e todos tocam profundamente minha sensibilidade desnuda de vaidades, ou orgulhos. Há muito, não somo dores-alegrias, anos-dias. Apenas vivo: descoberta...
Quando me soltei no mundo, eu nada sabia de solidão – a mais autêntica solidão sentida na companhia de um outro alguém solitário. Mas ainda restava o dentro de mim – que sobrevivia num buraco encrustado no canto do porão escuro. Num ímpeto de busca de ar, meus olhos se ofuscaram diante da luz do sol. E já não havia como voltar ao porão escuro, porque a porta se trancou por dentro, como a recusar o calor do dia. Gotas de chuva de verão lavaram minha alma, que enxergava agora a casa abandonada, que sempre esteve acima do porão. Aos poucos, escancarei portas e janelas dessa casa, lavei tudo com água pura, ajeitei os móveis, coloquei a vida no lugar.
Hoje, solta no mundo – depois que meu velho pai deixou-me aos cuidados de mim mesma -, ainda me extasio diante da dor e da alegria. A dor, desde sempre, me é subjetiva: não aprendi a sofrer pelo efeito, mas sim, pela causa: sempre a maldade humana (a mesma raça de onde provêem também as minhas maldades – sou pré-histórica). Já minhas alegrias – sempre digo – são simplórias. Às vezes, um leve roçar de penas de passarinho em vôo, pelo meu rosto, traz a alegria do meu dia. Ou então os olhos arregalados e a boca aberta em baba da criança que solta um balão pelos ares. Isso faz meu olhar brilhar da mais pura alegria. Mas confesso também que sinto as dores e as alegrias do mundo. Tudo e todos tocam profundamente minha sensibilidade desnuda de vaidades, ou orgulhos. Há muito, não somo dores-alegrias, anos-dias. Apenas vivo: descoberta...
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
Poeta
(À Cecília Meireles)
Dora Brisa
A porta do meu coração
Continua aberta
Mas não sou poeta
Só choro
Quando a saudade aperta
Mas não sou poeta
Alguns “normais”
Me consideram pouco esperta
Mas não sou poeta
Me perco nas palavras
Sou tão indireta
Mas não sou poeta
Quase sempre viajo
Em Alfa, Beta
Mas não sou poeta
Nas tempestades
Minha pequenez permanece ereta
Mas não sou poeta
Meu pensar tem asas
De matéria concreta
Mas não sou poeta
Meu sentir vagueia
Além da vida incompleta
Mas não sou poeta
Meu olhar sobrevive
Em estado de alerta
Mas não sou poeta
Minhas mãos e meus braços suportam
A carga aparentemente correta
Mas não sou poeta
Diante da música
Minha alma desperta
Mas não sou poeta
Minha vida sem mistérios
É simples, discreta
Mas não sou poeta
Minha alma torta
Tenta caminhar em linha reta
Mas não sou poeta
Tão-somente escrevo o que
Me transcende, me liberta
Mas não sou poeta
Cecília é – e sempre será – poeta,
Em cada verso,
Em cada crônica,
Na sensibilidade descoberta...
Voz - Sereníssima:
Dora Brisa
A porta do meu coração
Continua aberta
Mas não sou poeta
Só choro
Quando a saudade aperta
Mas não sou poeta
Alguns “normais”
Me consideram pouco esperta
Mas não sou poeta
Me perco nas palavras
Sou tão indireta
Mas não sou poeta
Quase sempre viajo
Em Alfa, Beta
Mas não sou poeta
Nas tempestades
Minha pequenez permanece ereta
Mas não sou poeta
Meu pensar tem asas
De matéria concreta
Mas não sou poeta
Meu sentir vagueia
Além da vida incompleta
Mas não sou poeta
Meu olhar sobrevive
Em estado de alerta
Mas não sou poeta
Minhas mãos e meus braços suportam
A carga aparentemente correta
Mas não sou poeta
Diante da música
Minha alma desperta
Mas não sou poeta
Minha vida sem mistérios
É simples, discreta
Mas não sou poeta
Minha alma torta
Tenta caminhar em linha reta
Mas não sou poeta
Tão-somente escrevo o que
Me transcende, me liberta
Mas não sou poeta
Cecília é – e sempre será – poeta,
Em cada verso,
Em cada crônica,
Na sensibilidade descoberta...
Voz - Sereníssima:
terça-feira, 16 de novembro de 2010
Resto de vida
Dora Brisa
(Para alguém que seguiu viagem sem volta)
Já não vejo mais seu olhar perdido,
Nem seu sorriso ingênuo de não pensar.
O que você sonhou um dia, e foi esquecido?
Por que não se entrega à vida a expirar?
Será que ainda lembra algum momento?
Do que teve consciência na triste vida?
O que guardou da infância ao relento?
Seu silêncio ecoa na gaiola apodrecida.
Você sabe, ainda sabe de tudo.
Por que não se debate numa só reação?
Seu mundo ficou, de repente, mudo,
Nem sua alma parece em oração.
Ao seu lado, neste leito entristecido,
Onde a vida padece a cada segundo,
Já não espero mais sequer um gemido,
Nem uma fala sua, ou olhar moribundo.
Será que lê os pensamentos meus,
Ou se afoga na desesperança?
Ainda guarda a fé em Deus,
Ou sua alma chora feito criança?
Tem na memória os sonhos que dançava?
Guardou, de algum passeio, o sabor do vento?
Será que lembra o relógio que mais gostava?
Pra que relógio, se não há mais tempo?...
(Para alguém que seguiu viagem sem volta)
Já não vejo mais seu olhar perdido,
Nem seu sorriso ingênuo de não pensar.
O que você sonhou um dia, e foi esquecido?
Por que não se entrega à vida a expirar?
Será que ainda lembra algum momento?
Do que teve consciência na triste vida?
O que guardou da infância ao relento?
Seu silêncio ecoa na gaiola apodrecida.
Você sabe, ainda sabe de tudo.
Por que não se debate numa só reação?
Seu mundo ficou, de repente, mudo,
Nem sua alma parece em oração.
Ao seu lado, neste leito entristecido,
Onde a vida padece a cada segundo,
Já não espero mais sequer um gemido,
Nem uma fala sua, ou olhar moribundo.
Será que lê os pensamentos meus,
Ou se afoga na desesperança?
Ainda guarda a fé em Deus,
Ou sua alma chora feito criança?
Tem na memória os sonhos que dançava?
Guardou, de algum passeio, o sabor do vento?
Será que lembra o relógio que mais gostava?
Pra que relógio, se não há mais tempo?...
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
Repouso
Dora Brisa
Um pássaro assovia
Uma tarde cai
Uma nuvem passa
Uma folha segue
Uma formiga foge
Uma orquídea desabrocha
Um gato se espreguiça
Uma aranha borda
Uma telha goteja
Uma borboleta pousa
Uma brisa sopra
Um fruto despenca
Um galho se inclina
Um crepúsculo chega
Uma vida embala uma rede
Um sonho único
Finalmente – repouso!
Voz: Rita de Cássia:
Um pássaro assovia
Uma tarde cai
Uma nuvem passa
Uma folha segue
Uma formiga foge
Uma orquídea desabrocha
Um gato se espreguiça
Uma aranha borda
Uma telha goteja
Uma borboleta pousa
Uma brisa sopra
Um fruto despenca
Um galho se inclina
Um crepúsculo chega
Uma vida embala uma rede
Um sonho único
Finalmente – repouso!
Voz: Rita de Cássia:
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
Abre, Maria!
Dora Brisa
Estava exausta. Nem havia se apercebido que trabalhara mais de cinco horas ininterruptas. Sabia, entretanto, que deveria concluir aquela tradução, antes que o sol denunciasse o desleixo dela com o humano (sobrevivente).
Feito animal sedento, desliza, descalça, pela cozinha, atrás daquele copo de leite que guardou no dia anterior. Toma com sofreguidão, como desengasgando a própria vida - sem sentido! -, sem degustar a brancura do leite morno na boca.
Passa indiferente ao relógio cuco da sala, e joga-se na velha poltrona, que há muito oferece-lhe colo aconchegante, sem nada exigir. Em silêncio pleno, fecha os olhos e - por um só momento - nada pensa. Deixa-se embalar pelo mutismo daquele pobre apartamento perdido no terceiro andar do Leme. Não há perfume, porque nunca gostou de flores, que, sem quaisquer explicações, fenecem ao entardecer. Só o verde das folhas contrastam com o branco das paredes - branco que, por mais que ela absorva diariamente, renova-se leitoso e translúcido.
Como a despertar de um sonho, arregala os olhos, enquanto escuta gritos lá embaixo. Aos poucos, a penumbra da sala torna-se mais clara - visível -, quase obrigando-a levantar. Segue em direção da sacada, e nada enxerga lá embaixo. Mas os gritos - agora desesperados - continuam, sempre mais ensurdecedores. A voz - já um tanto rouca - define-se masculina. "Provavelmente, um velho" - a razão acusa-lhe, enquanto a visão obedece à busca da audição.
O corpo todo agora treme. E ela tenta concatenar o raciocínio mais lógico que já teve, para definir o que dizem aqueles bramidos misturados com choro pungente - feito de lágrimas tão grossas, que ela jamais ousou derramar um dia. "Por que um velho choraria a tal ponto, numa hora dessas?" - questiona a razão indiferente. Mas nem as perguntas mais óbvias lhe acalmam o coração, e retorna à sacada.
Com os ouvidos atentos, define a frase insistente, que lhe chega em forma de grito insano: "Abre, Maria! Atende!"
Novamente a razão lhe faz lembrar os nomes dos poucos vizinhos com os quais divide a rotina de esbarrar-se com alguns deles, durante a semana, pelos corredores sempre escuros. "Não há Maria aqui" - sussurra algumas vezes, na intenção - quem sabe - de acalmar um daqueles urros que começam a atordoar a quietude da madrugada. Mas o velho não a escuta, e passa a tocar o interfone com insistência, demonstrando a busca desesperada por Maria, sem deter-se nos números dos apartamentos. Por minutos (incontáveis), o velho, como a provocá-la, repete o exercício de tocar todos os números do interfone, gritando: "Abre, Maria! Atende!"
Ela já não suporta a indiferença da penumbra. Liga todas as luzes do apartamento, até o velho abajur que abriga os óculos cansados de enxergar o mundo. E questiona, em voz alta: Por que Maria não abre, não atende? Onde estará Maria?...
No instante seguinte, imagina Maria fugindo de casa, escondendo-se naquele pacato prédio do Leme, sem causar a menor suspeita. Enquanto o pai - desesperado - suplica-lhe atenção, Maria esconde-se debaixo das cobertas.
"Mas pode haver outra Maria, aquela que deixou o filho deitado ao lado do marido, e nunca mais apareceu" - reflete ela. "O velho quer dar notícias do filho, e da mãe dela que não mais abrirá os olhos" - silencia.
Lá embaixo, os gritos começam a espaçar-se, cada vez mais roucos, desesperados. E Maria não abre. Diante da sacada, contorcendo as mãos, a ânsia que Maria - em ato impetuoso - abra e atenda um só daqueles urros insanos. Mas Maria parece surda, ou indiferente: não abre.
Aos poucos, os gritos tornam-se frases soltas na madrugada: "Abre, Maria! Abre, Maria! Abre, Maria!"
Quando a madrugada parece novamente adormecer, ela busca, com o olhar fixo na calçada, o velho já cansado. Mas não enxerga criatura alguma, por mais que limpe os óculos no vestido solto no corpo. As poucas árvores da rua - silenciosas - não denunciam qualquer sombra insana. E nem um grito mais ousa implorar por Maria.
Num esforço físico, debruçando-se na sacada, alonga a visão dos óculos, que perscrutam um só vulto. Quando já pensa em desistir, vê adiante, quase dobrando a esquina, um corpo envelhecido, cambaleante. Passos indecisos, silenciosos. O vulto causa-lhe fascínio que a imobiliza. E o instante se repete: nada pensa.
Aquela sombra desesperada some na esquina, enquanto ela, debruçada na sacada, permanece indiferente. O relógio cuco denuncia cinco horas da manhã, e ela já nem pensa mais nas vinte páginas que ainda resta traduzir daquele francês que a arremessa à esperança na vida.
Num grito desesperado - insano -, ela lembra: "eu sou Maria!" Há tanto tempo deixou de ser Maria, que nem sabe mais pronunciar o próprio nome com familiaridade. Um dia - há muito tempo - foi Maria, Maria da Luz, que viveu na escuridão até deixar de ser Maria.
Mas nem um só grito ficou, para ela responder: "eu sou Maria!" O peito comprime o nome: Maria. Em passos acelerados - despertos -, dirige-se à porta, que se fecha quando tranca a fechadura. Até a escuridão dos corredores não mais lhe amedronta. Descalça, segue muda em direção da Praia Vermelha, que prenuncia o nascer do sol. A brisa da madrugada toca-lhe os cabelos, enquanto o olhar dela se perde na indiferença do mar absoluto. Uma só onda vem beijar-lhe os pés, como a perguntar por Maria. Mas ela não ousa pronunciar novamente esse nome, que poderia voltar em forma de eco: Abre, Maria!
Estava exausta. Nem havia se apercebido que trabalhara mais de cinco horas ininterruptas. Sabia, entretanto, que deveria concluir aquela tradução, antes que o sol denunciasse o desleixo dela com o humano (sobrevivente).
Feito animal sedento, desliza, descalça, pela cozinha, atrás daquele copo de leite que guardou no dia anterior. Toma com sofreguidão, como desengasgando a própria vida - sem sentido! -, sem degustar a brancura do leite morno na boca.
Passa indiferente ao relógio cuco da sala, e joga-se na velha poltrona, que há muito oferece-lhe colo aconchegante, sem nada exigir. Em silêncio pleno, fecha os olhos e - por um só momento - nada pensa. Deixa-se embalar pelo mutismo daquele pobre apartamento perdido no terceiro andar do Leme. Não há perfume, porque nunca gostou de flores, que, sem quaisquer explicações, fenecem ao entardecer. Só o verde das folhas contrastam com o branco das paredes - branco que, por mais que ela absorva diariamente, renova-se leitoso e translúcido.
Como a despertar de um sonho, arregala os olhos, enquanto escuta gritos lá embaixo. Aos poucos, a penumbra da sala torna-se mais clara - visível -, quase obrigando-a levantar. Segue em direção da sacada, e nada enxerga lá embaixo. Mas os gritos - agora desesperados - continuam, sempre mais ensurdecedores. A voz - já um tanto rouca - define-se masculina. "Provavelmente, um velho" - a razão acusa-lhe, enquanto a visão obedece à busca da audição.
O corpo todo agora treme. E ela tenta concatenar o raciocínio mais lógico que já teve, para definir o que dizem aqueles bramidos misturados com choro pungente - feito de lágrimas tão grossas, que ela jamais ousou derramar um dia. "Por que um velho choraria a tal ponto, numa hora dessas?" - questiona a razão indiferente. Mas nem as perguntas mais óbvias lhe acalmam o coração, e retorna à sacada.
Com os ouvidos atentos, define a frase insistente, que lhe chega em forma de grito insano: "Abre, Maria! Atende!"
Novamente a razão lhe faz lembrar os nomes dos poucos vizinhos com os quais divide a rotina de esbarrar-se com alguns deles, durante a semana, pelos corredores sempre escuros. "Não há Maria aqui" - sussurra algumas vezes, na intenção - quem sabe - de acalmar um daqueles urros que começam a atordoar a quietude da madrugada. Mas o velho não a escuta, e passa a tocar o interfone com insistência, demonstrando a busca desesperada por Maria, sem deter-se nos números dos apartamentos. Por minutos (incontáveis), o velho, como a provocá-la, repete o exercício de tocar todos os números do interfone, gritando: "Abre, Maria! Atende!"
Ela já não suporta a indiferença da penumbra. Liga todas as luzes do apartamento, até o velho abajur que abriga os óculos cansados de enxergar o mundo. E questiona, em voz alta: Por que Maria não abre, não atende? Onde estará Maria?...
No instante seguinte, imagina Maria fugindo de casa, escondendo-se naquele pacato prédio do Leme, sem causar a menor suspeita. Enquanto o pai - desesperado - suplica-lhe atenção, Maria esconde-se debaixo das cobertas.
"Mas pode haver outra Maria, aquela que deixou o filho deitado ao lado do marido, e nunca mais apareceu" - reflete ela. "O velho quer dar notícias do filho, e da mãe dela que não mais abrirá os olhos" - silencia.
Lá embaixo, os gritos começam a espaçar-se, cada vez mais roucos, desesperados. E Maria não abre. Diante da sacada, contorcendo as mãos, a ânsia que Maria - em ato impetuoso - abra e atenda um só daqueles urros insanos. Mas Maria parece surda, ou indiferente: não abre.
Aos poucos, os gritos tornam-se frases soltas na madrugada: "Abre, Maria! Abre, Maria! Abre, Maria!"
Quando a madrugada parece novamente adormecer, ela busca, com o olhar fixo na calçada, o velho já cansado. Mas não enxerga criatura alguma, por mais que limpe os óculos no vestido solto no corpo. As poucas árvores da rua - silenciosas - não denunciam qualquer sombra insana. E nem um grito mais ousa implorar por Maria.
Num esforço físico, debruçando-se na sacada, alonga a visão dos óculos, que perscrutam um só vulto. Quando já pensa em desistir, vê adiante, quase dobrando a esquina, um corpo envelhecido, cambaleante. Passos indecisos, silenciosos. O vulto causa-lhe fascínio que a imobiliza. E o instante se repete: nada pensa.
Aquela sombra desesperada some na esquina, enquanto ela, debruçada na sacada, permanece indiferente. O relógio cuco denuncia cinco horas da manhã, e ela já nem pensa mais nas vinte páginas que ainda resta traduzir daquele francês que a arremessa à esperança na vida.
Num grito desesperado - insano -, ela lembra: "eu sou Maria!" Há tanto tempo deixou de ser Maria, que nem sabe mais pronunciar o próprio nome com familiaridade. Um dia - há muito tempo - foi Maria, Maria da Luz, que viveu na escuridão até deixar de ser Maria.
Mas nem um só grito ficou, para ela responder: "eu sou Maria!" O peito comprime o nome: Maria. Em passos acelerados - despertos -, dirige-se à porta, que se fecha quando tranca a fechadura. Até a escuridão dos corredores não mais lhe amedronta. Descalça, segue muda em direção da Praia Vermelha, que prenuncia o nascer do sol. A brisa da madrugada toca-lhe os cabelos, enquanto o olhar dela se perde na indiferença do mar absoluto. Uma só onda vem beijar-lhe os pés, como a perguntar por Maria. Mas ela não ousa pronunciar novamente esse nome, que poderia voltar em forma de eco: Abre, Maria!
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Fado ao mar
Dora Brisa
Quisera eu, por um só instante,
Ser o mar com seu mistério,
Que traz para perto, o distante,
E faz do passado, cemitério...
Quisera eu ser o mar,
Que nada guarda ou retém,
Onde cada instante a desaguar
Não deixa pistas a ninguém...
Quisera eu, nesta vida,
Pudesse em mar diluir-me,
Sem precisar seguir a lida,
Finalmente fugir da terra firme...
Quisera eu outros mundos refletir,
E, como mar, com ondas embalar
Os sonhos do pescador a partir,
Sem destino, ou cais, a aportar...
Quisera eu embriagar-me de mar,
E, na minha inimaginável tontura,
Sobre as mais altas ondas caminhar,
Sem deixar rastros de amargura...
Quisera eu ser o mar infinito,
Que a tudo permite passagem,
Não fazer ecoar um só grito,
Nas profundezas, guardar a bagagem...
Voz - Elisa:
Quisera eu, por um só instante,
Ser o mar com seu mistério,
Que traz para perto, o distante,
E faz do passado, cemitério...
Quisera eu ser o mar,
Que nada guarda ou retém,
Onde cada instante a desaguar
Não deixa pistas a ninguém...
Quisera eu, nesta vida,
Pudesse em mar diluir-me,
Sem precisar seguir a lida,
Finalmente fugir da terra firme...
Quisera eu outros mundos refletir,
E, como mar, com ondas embalar
Os sonhos do pescador a partir,
Sem destino, ou cais, a aportar...
Quisera eu embriagar-me de mar,
E, na minha inimaginável tontura,
Sobre as mais altas ondas caminhar,
Sem deixar rastros de amargura...
Quisera eu ser o mar infinito,
Que a tudo permite passagem,
Não fazer ecoar um só grito,
Nas profundezas, guardar a bagagem...
Voz - Elisa:
terça-feira, 9 de novembro de 2010
Voo
Dora Brisa
Voa o tempo...
As nuvens voam...
Voa a poesia...
O pensamento voa...
Voam as andorinhas...
A musica voa...
Voa o sonho...
As palavras voam...
Voa a saudade...
O passo voa...
Voam as ideias...
A folha voa...
Voa a memoria...
A esperança voa......
Enquanto dentro de mim não há silencio:
a menina
segue o voo da vida – vendaval impreciso...
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Vem
Dora Brisa
Vem, toca as minhas mãos,
Vê como são trêmulas e frias,
Tão trêmulas e tão frias,
Como devem ser as mãos
De toda gente.
Vem, me dá um abraço,
Um abraço de alma inteira,
Um abraço aconchegante, quente,
Um abraço silencioso,
Como deveria ter toda gente.
Vem, ouve meu mutismo cansado,
Silêncio feito de nadas,
Depois de ter ouvido tudo,
Até os gritos de dor, de medo,
Gritos de toda gente.
Vem, me conta histórias,
Fala de vidas que não são minhas,
Lembra comigo a tua infância,
Chora e ri da minha (tua) vida,
Tão vivida, como de toda gente.
Vem me dizer que tudo passa:
As nuvens, o sol, a chuva,
As feridas que sangram e cicatrizam.
Mas me diga que também a vida
Passa, como toda gente.
Vem, embala minha alma cansada,
Canta a tua canção pra mim.
Não, não diga mais nada,
Adormeça comigo, na noite sem fim,
Enquanto ainda sonha toda gente.
Vem... Vem...
Vem, toca as minhas mãos,
Vê como são trêmulas e frias,
Tão trêmulas e tão frias,
Como devem ser as mãos
De toda gente.
Vem, me dá um abraço,
Um abraço de alma inteira,
Um abraço aconchegante, quente,
Um abraço silencioso,
Como deveria ter toda gente.
Vem, ouve meu mutismo cansado,
Silêncio feito de nadas,
Depois de ter ouvido tudo,
Até os gritos de dor, de medo,
Gritos de toda gente.
Vem, me conta histórias,
Fala de vidas que não são minhas,
Lembra comigo a tua infância,
Chora e ri da minha (tua) vida,
Tão vivida, como de toda gente.
Vem me dizer que tudo passa:
As nuvens, o sol, a chuva,
As feridas que sangram e cicatrizam.
Mas me diga que também a vida
Passa, como toda gente.
Vem, embala minha alma cansada,
Canta a tua canção pra mim.
Não, não diga mais nada,
Adormeça comigo, na noite sem fim,
Enquanto ainda sonha toda gente.
Vem... Vem...
Voz - Rosany Costa:
terça-feira, 2 de novembro de 2010
Chanson du silence
Dora Brisa
Num dia qualquer,
Você acordará sem mais
Lembrar de mim,
E você vai querer
Dormir novamente,
Para não mais acordar,
E continuar sonhando.
Mas não haverá
Mais sono,
Nem sonho...
E você não saberá
O que te fará falta,
Por que não saberá
Mais de mim,
Eu, que não sei
Fazer falta
Sequer a mim mesma.
E o dia, entristecido,
Irá embora mais cedo.
E a noite chegará
Com a volúpia de
Tudo escurecer.
Sem memória,
Sem lembranças,
Você despertará,
Na madrugada insone,
Com uma lágrima
Vazia de sal,
No canto do olho,
Por que outro canto
Já não haverá.
Só restará
Um livro rasgado,
Recheado de folhas
Secas de plátanos.
Num dia qualquer,
Você acordará sem mais
Lembrar de mim,
E você vai querer
Dormir novamente,
Para não mais acordar,
E continuar sonhando.
Mas não haverá
Mais sono,
Nem sonho...
E você não saberá
O que te fará falta,
Por que não saberá
Mais de mim,
Eu, que não sei
Fazer falta
Sequer a mim mesma.
E o dia, entristecido,
Irá embora mais cedo.
E a noite chegará
Com a volúpia de
Tudo escurecer.
Sem memória,
Sem lembranças,
Você despertará,
Na madrugada insone,
Com uma lágrima
Vazia de sal,
No canto do olho,
Por que outro canto
Já não haverá.
Só restará
Um livro rasgado,
Recheado de folhas
Secas de plátanos.
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
Em busca do EU
Dora Brisa
Saiu em busca do EU
Encontrou em DEUs
E até no atEU
Em outros dEUses, EU se escondEU
MorphEU
ZEUs
OrphEU
Mas a vontade que nascEU
CrescEU
E não morrEU
Achou EU
Entre PigmEUs
EUnucos
CirinEUs
Lá a rota invertEU
Quem escrevEU
Já não lEU
Simplesmente vivEU
O que era sEU
Passou a ser mEU
E tudo mais esquecEU
Porque no apogEU
ChovEU
Fim de linha: Furou o pnEU!
Voz - Helena Antoun:
Saiu em busca do EU
Encontrou em DEUs
E até no atEU
Em outros dEUses, EU se escondEU
MorphEU
ZEUs
OrphEU
Mas a vontade que nascEU
CrescEU
E não morrEU
Achou EU
Entre PigmEUs
EUnucos
CirinEUs
Lá a rota invertEU
Quem escrevEU
Já não lEU
Simplesmente vivEU
O que era sEU
Passou a ser mEU
E tudo mais esquecEU
Porque no apogEU
ChovEU
Fim de linha: Furou o pnEU!
Voz - Helena Antoun:
Assinar:
Postagens (Atom)