(Foto: Guilherme -Amapá)
Dora Brisa
Quando me soltaram no mundo, nada me disseram sobre dores, ou alegrias. Tateando, engatinhando, fui descobrindo que não existe dor maior, ou dor menor. Nem tampouco a alegria é mensurável, comparável. Cada dor é única. Cada alegria também. Fatal. E foi assim que descobri ainda que a alegria e a dor são – essencialmente – solitárias, mesmo quando acompanhadas de um outro sorriso, uma outra lágrima.
Quando me soltei no mundo, eu nada sabia de solidão – a mais autêntica solidão sentida na companhia de um outro alguém solitário. Mas ainda restava o dentro de mim – que sobrevivia num buraco encrustado no canto do porão escuro. Num ímpeto de busca de ar, meus olhos se ofuscaram diante da luz do sol. E já não havia como voltar ao porão escuro, porque a porta se trancou por dentro, como a recusar o calor do dia. Gotas de chuva de verão lavaram minha alma, que enxergava agora a casa abandonada, que sempre esteve acima do porão. Aos poucos, escancarei portas e janelas dessa casa, lavei tudo com água pura, ajeitei os móveis, coloquei a vida no lugar.
Hoje, solta no mundo – depois que meu velho pai deixou-me aos cuidados de mim mesma -, ainda me extasio diante da dor e da alegria. A dor, desde sempre, me é subjetiva: não aprendi a sofrer pelo efeito, mas sim, pela causa: sempre a maldade humana (a mesma raça de onde provêem também as minhas maldades – sou pré-histórica). Já minhas alegrias – sempre digo – são simplórias. Às vezes, um leve roçar de penas de passarinho em vôo, pelo meu rosto, traz a alegria do meu dia. Ou então os olhos arregalados e a boca aberta em baba da criança que solta um balão pelos ares. Isso faz meu olhar brilhar da mais pura alegria. Mas confesso também que sinto as dores e as alegrias do mundo. Tudo e todos tocam profundamente minha sensibilidade desnuda de vaidades, ou orgulhos. Há muito, não somo dores-alegrias, anos-dias. Apenas vivo: descoberta...
Quando me soltei no mundo, eu nada sabia de solidão – a mais autêntica solidão sentida na companhia de um outro alguém solitário. Mas ainda restava o dentro de mim – que sobrevivia num buraco encrustado no canto do porão escuro. Num ímpeto de busca de ar, meus olhos se ofuscaram diante da luz do sol. E já não havia como voltar ao porão escuro, porque a porta se trancou por dentro, como a recusar o calor do dia. Gotas de chuva de verão lavaram minha alma, que enxergava agora a casa abandonada, que sempre esteve acima do porão. Aos poucos, escancarei portas e janelas dessa casa, lavei tudo com água pura, ajeitei os móveis, coloquei a vida no lugar.
Hoje, solta no mundo – depois que meu velho pai deixou-me aos cuidados de mim mesma -, ainda me extasio diante da dor e da alegria. A dor, desde sempre, me é subjetiva: não aprendi a sofrer pelo efeito, mas sim, pela causa: sempre a maldade humana (a mesma raça de onde provêem também as minhas maldades – sou pré-histórica). Já minhas alegrias – sempre digo – são simplórias. Às vezes, um leve roçar de penas de passarinho em vôo, pelo meu rosto, traz a alegria do meu dia. Ou então os olhos arregalados e a boca aberta em baba da criança que solta um balão pelos ares. Isso faz meu olhar brilhar da mais pura alegria. Mas confesso também que sinto as dores e as alegrias do mundo. Tudo e todos tocam profundamente minha sensibilidade desnuda de vaidades, ou orgulhos. Há muito, não somo dores-alegrias, anos-dias. Apenas vivo: descoberta...
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